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1ª Publicação

Gonçalo Julião

 

Shall We Love: O que é o amor?

Gonçalo Julião: O amor é, provavelmente, um dos assuntos mais controversos. São inúmeras as tentativas para o explicar e mesmo assim dificilmente conseguimos alcançar uma explicação válida, consensual. É, ainda e provavelmente, das maiores forças ao nosso alcance; contudo, nunca a conseguimos dominar. Porque o amor, como palavra e como noção, é indissociável da ligação ao outro, a algo, ou à nossa própria existência. Porque é que às vezes é tão difícil amar alguém como nos amamos a nós próprios? Porque é que o amor é tão importante para descobrir o outro como para nos descobrirmos a nós mesmos? E porque é que nos encontramos na pessoa que amamos?

O amor é elástico! Podem-se amar imensas pessoas (se calhar não da mesma maneira), mas o amor é uma energia, um sentimento muito forte, muito exigente. Exige que ponhamos de parte o nosso natural egoísmo e, em sua substituição, coloquemos uma boa dose de partilha, uma boa dose de entrega e uma boa dose de amor próprio.

Tentar descrevê-lo, ou perceber o que é, são sinais que nos dizem que provavelmente já não interessa... porque o encontrámos. E é indiscritível. É um imenso tesouro.

 

SWL: Achas que a sociedade e o meio onde cresceste influencia a tua visão do amor? Como?

GJ: Ao contrário do que muitos de nós pensamos ou daquilo que nos impõem através da ficção, através das coisas que vemos, o amor é mesmo aquilo que é. Não existe outra coisa sem ser o próprio amor.

 

SWL: Qual é a importância do amor na tua vida?

GJ: O amor é importante porque nutre, é construtivo, faz-nos sentir bem, faz-nos crescer. É isso que significa amar, ser amado e sentir o amor trás. O amor não é mágoa, o amor não é ciúme, o amor não é tristeza ou abandono. Só existe amor se houver generosidade. E o papel do amor na minha vida é exatamente esse: é construtivo, é nutritivo, faz-me sorrir e torna tudo muito mais fácil.

Ao contrário daquilo que sempre me mostraram, o amor simplifica e não complica. O amor é irracional. E quando o sentimos muito forte, muito a sério, fora de um controlo racional, é uma energia positiva, é uma energia que conduz positivamente a nossa ação. Ser irracional nesse aspecto não tem nada de mal. É simplesmente fantástico.

Lembro-me de ver situações muito complicadas no que toca a relações. A ideia com que ficava era “esta gente dá-se a muito trabalho para nada”. Porque é que estão uns com os outros, porque é que num momento é “amo-te muito” e depois... “um beijo e um queijo”? Ou porque é que as pessoas se separam tão rapidamente e se atreveram a chamar àquilo amor? Parecia que o amor não era assim tão relevante, era extremamente mutável e fugaz. E realmente o amor é mutável. É suposto não ficar no mesmo sítio. E essa é a conclusão que tiro daquilo que fui descobrindo por mim mesmo, embora já desde muito pequeno tenha visto pessoas a separarem-se e a encontrarem outras fontes a que chamaram amor, para depois, mais uma vez, acabar. Porque é que as relações são assim tão ambíguas? Porque é que num momento algo se chama amor e depois já não se chama?

Sempre me disseram para ter cuidado com o amor, porque o amor dói. O amor não dói, custa um bocado, e é assustador, ao início. Porque sentes que te estás a entregar como se fosses dar um passo no abismo, não sabendo muito bem para onde é que estás a ir, para onde é que a tua confiança ou a tua entrega estão a ir. Cabe ao bom senso e à experiência perceber o que é inevitável: isto pode correr bem ou pode correr mal, mas é amor, não é?

Aquilo que sentimos tem de ser sentido. Temos que estar conscientes do que sentimos e nestas coisas do amor é decidir simplesmente esquecer as noções que temos e arriscar.

Depois de muito tempo a achar que amor era simplesmente uma grande chachada, vai e vem, deixa de se sentir, acaba, e apesar dos modelos que tinha e dos exemplos que vi, encontrei um exemplo que acredito ser aquilo que para mim é o amor: muita amizade, cumplicidade, crescer junto, crescer ao mesmo tempo, crescer de mãos dadas, apoiar. O amor é um sentimento e revela-se nas atitudes que temos para com a pessoa que amamos (ou para com as pessoas que amamos, sejam estas os nossos pais, irmãos, pessoas próximas, conjugues, namorados, namoradas, o que seja...).

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